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Point-of-View Shot - Inception (2010)

por Catarina d´Oliveira, em 03.09.10

  

Inception é uma experiência cinematográfica sem precedentes, uma agulha de diamante num palheiro de filmes reciclados e mastigados. Será este o futuro do cinema? Mas como avançar a partir daqui? O que há depois de Inception?

 

Tal como já aconteceu noutras críticas publicadas aqui no blog, esta é uma crítica multiforme. É ao mesmo tempo um artigo, um ensaio e um estudo sobre um filme que, devido à sua complexidade, não merece menos que uma análise profunda à sua essência.

 

*** *** ***

 

Estejamos em estados de terror ou prazer e euforia, o sonho é uma aventura solitária. Mas e se outras pessoas conseguissem invadir os nossos sonhos e nos manipulassem enquanto dormimos para nos roubarem os segredos?

 

É este o mundo de Inception. Depois de ter a ideia para o filme aos 16 anos, Christopher Nolan escreveu o primeiro rascunho da fita há quase dez anos, enquanto produzia Memento.

Depois do sucesso bilionário de The Dark Knight, o realizador recebeu aquilo que poderá considerar-se uma recompensa da Warner Bros: um orçamento de mais de 125 milhões de euros para  utilizar no seu próximo filme que era difícil de explicar e não tinha sucesso garantido; foi um acto de fé.

 

Hollywood tem o hábito de produzir filmes de ingestão e digestão rápidas. Regra geral, os espectadores são abordados de acordo com uma perspectiva que coloca a sua inteligência muitos furos abaixo da média. Nolan, de quem vimos filmes como Memento ou Insomnia, faz exactamente o contrário, podendo inclusive  tomar o seu público como mais inteligente do que realmente é – note-se que o enredo, de uma forma geral, não é confuso; o que acontece é que suscita diversas interpretações, suposições e discussões. Na minha modesta opinião, é refrescante ter um realizador que me obriga a pensar e a esforçar-me por me manter ligada.

 

"What is the most resilient parasite? Bacteria? A virus? An intestinal worm? An idea. Resilient... highly contagious. Once an idea has taken hold of the brain it's almost impossible to eradicate. An idea that is fully formed - fully understood - that sticks; right in there somewhere." (Cobb)

 

Outro ponto de análise imperativa ainda antes de crítica foi a campanha de marketing utilizada. Como chegar à massa de audiência necessária para que houvesse proveito nas receitas? Trailers misteriosos e incríveis posters gigantes colados em prédios de Manhattan (ver aqui e aqui) copiaram de certa forma os propósitos do enredo: uma ideia vaga mas atractiva foi plantada na mente das pessoas, e assim, sem saber exactamente ao que iam, muitos acabaram por simplesmente TER de ver do que se tratava.

  

Inception abre as cortinas com uma sequência dramática que paira sobre uma costa sem nome com enormes ondas a engolir pedaços de terra e de edifícios há muito consumidos pelo tempo. Nesta imagem está a chave para o sucesso do visionamento de um puzzle como estes. Em vez de tentarmos entender tudo à primeira, o mais sensato a fazer é deixá-lo afogar-nos, escorrer sobre nós e guardar as interpretações e suposições para mais tarde. Isto porque, na verdade, quase de certeza que haverá uma próxima vez. Inception é um daqueles pedaços da sétima arte que são vistos mais de uma vez não porque somos obrigados, mas porque queremos.

 

"Dreams seem real while we're in them, it's only when we wake up that we realize something was actually strange." (Cobb)

 

O nosso anfitrião é Dom Cobb (Leonardo DiCaprio), um extractor cujo trabalho é invadir os sonhos de pessoas importantes e roubar as suas ideias mais  secretas. Cobb saqueia mentes com um engenho único ainda que seja cada vez mais assombrado pela memória da mulher falecida, Mal (Marion Cotilard), que muitas vezes tenta boicotar as suas missões. É isso que acontece durante o assalto ao grande empresário Saito (Ken Watanabe), que no final de contas está apenas a testar as qualidades de Cobb para um trabalho ainda mais profundo e arriscado.


O alvo é o futuro rival empresarial de Saito, Robert Fischer Jr. (Cillian Murphy) e o objectivo é, ao invés de roubar, plantar uma ideia – Implantação – que levará Fischer a dissolver o império do falecido pai.

  

Tal como nos roubos clássicos, vários especialistas se juntam a Cobb na sua missão pelo subconsciente alheio: Arthur (Joseph Gordon-Levitt) é o informador, o seu braço direito; Eames (Tom Hardy) é o forjador, que pode assumir várias identidades no sonho; e Yusuf (Dileep Rao) é o químico que compôs o sedativo para que uma missão tão profunda nas cavernas da mente pudesse ter lugar. Mas ainda falta um elemento chave – um arquitecto, aquele que planeará a estrutura física de cada sonho. Este será Ariadne (Ellen Page; o nome é inspirado na mitologia grega – Ariadne ajudou Teseu a descobrir a saída no labirinto do Minotauro), uma jovem estudante de arquitectura a quem Cobb ensinará todos os truques.

 

"You're waiting for a train. A train that will take you far away. You can't be sure where it will take you. But it doesn't matter - because we'll be together." (Cobb)

 

Conforme a equipa se compõe, vamo-nos embrenhando cada vez mais neste estranho mundo e vamo-nos familiarizando cada vez mais com as regras do sonho, com a natureza do tempo, as consequências da morte e os perigos de várias camadas de sonhos. Seguem-se paradoxos, leis e truques à medida que a equipa navega pela mente do objecto. E assistindo a tudo isto, sem qualquer controle sobre o que se passa, estamos nós, sem nada mais podemos fazer que ficar de boca aberta.

 

Uma das críticas que costuma acompanhar a fita é a falta de laços emocionais que cria com o espectador. Superficialmente, é um filme sobre roubo – um Ocean’s Eleven ainda mais cool onde os ladrões invadem o grande cofre da mente não para tirar algo, mas para colocar algo.

 

No primeiro visionamento, estamos tão empenhados em resolver a charada que não nos ligamos emocionalmente - o que aconteceu também comigo, admito. E aqui novamente se pede o segundo visionamento: rendam-se à visão e depois ao coração.

 

"An idea can transform the world and rewrite all the rules." (Cobb)

 

Conforme vamos descendo das intermináveis camadas dos sonhos e da visão de Nolan, vemos também que é um filme com um protagonista atormentado, viciado na memória de alguém que uma vez teve e para sempre perdeu, aprisionado a uma luta que pede libertação e perdão. Um homem que deseja apenas uma coisa; uma motivação simples que por mais voltas que dermos vamos sempre encontrar: voltar para casa. E é esta uma das grandes razões que fazem de Inception um puzzle que vale a pena montar cuidadosamente – as lutas interiores do anti-heroí que se vão manter depois do espectáculo visual e do sonho desaparecerem.

 

Outro ponto atractivo são ainda as raízes que vão além do género de acção, ficção científica, thriller e drama (como se estes não bastassem) e que se estendem a um entretenimento à antiga e a alguns traços característicos de film noir (a posição da femme fatale que Mal assume ou o amor para sempre perdido, por exemplo).

 

Passando ao elenco, é de topo contribuindo em grande parte para que Inception não seja apenas sobre grandes ideias e visualmente grandioso. Leonardo DiCaprio é o protagonista, o anti-herói por quem torcemos; e, como esperado, traz todo o seu talento para lentamente nos guiar pela sua mente contorcida e consumida pela culpa. De notar que DiCaprio já deve estar um expert neste tipo de personagens se pensarmos nos seus trabalhos mais recentes (Revolutionary Road em 2008 e Shutter Island também este ano)

 

"The seed that we planted in this man's mind, may change everything." (Cobb)

 

Marion Cotillard tipifica perfeitamente e uma vez mais o cuidado que Nolan teve em trabalhar a ligação emocional do filme, com uma performance aterradora. Os desmoronamentos e a destruição que vemos em ocasionalmente, um pouco como em Eternal Sunshine of the Spotless Mind, tornam-se metáforas para a sua relação instável com o marido. 


Reciclados da série Batman temos Ken Watanabe, Cillian Murphy e Michael Cane – e o mais difícil é errar com actores deste calibre. E o restante elenco secundário não desilude com Joseph Gordon-Levitt e Tom Hardy a garantirem alguns bons momentos de acção e comic relief.

 

A banda sonora de Hans Zimmer ecoa por todos os níveis com uma imponência tremenda. Em certas alturas, faz lembrar a banda sonora dos filmes de Batman, mas mais pausada e com um peso maior. A sala estremece. A edição diabólica de três e quatro planos de acção simultâneos está ao cargo de Lee Smith e é simplesmente brilhante e fluída.

 

"Don't you want to take a leap of faith? Or become an old man, filled with regret, waiting to die alone!" (Saito)

 

Os efeitos especiais (que Nolan usou o mínino possível) servem a história em vez de acontecer o inverso, o que acaba por contrariar positivamente a tendência actual de expor a audiência a um parque de diversões visual. O objectivo? Pelas palavras do próprio,“pôr a audiência dentro da experiência” ou seja, fazer com que os espectadores sejam sugados pela acção e se mantenham ligados emocionalmente acompanhado a luta e esforço dos personagens.

 

Os visuais filmados por Wally Pfister em quatro continentes, do calor de Marrocos até às paisagens cavadas dos Alpes, são espantosos e de cortar a respiração onde os tons escuros predominam. É um trabalho portentoso, um espectáculo natural com a adição de cidades que se dobram em si mesmas e de lutas sem gravidade.

 

Um sonho dentro de um sonho dentro de um sonho numa realidade filmada viaja pelos nossos olhos e depois aloja-se no nosso cérebro para que a digiramos. É um filme emocionante, visualmente formidável, desafiante, e cheio de grandes conceitos.

 

É a receita certa que mistura os melhores elementos de culto com características de Blockbuster.

 

"The moment's passed. Whatever I do I can't change this moment. I'm about to call out to them. They run away. If I'm ever going to see their faces I've gotta get back home. The real world." (Cobb)

 

Alguns críticos descreveram-no como confuso ou exageradamente pensado, o que é apenas um indicativo de como se tornaram receptivos a enredos que não dão espaço à ambiguidade e permitem três idas à casa de banho e duas visitas ao bar sem que se perca o fio à meada.


Para quem presta atenção, Inception não é confuso, é inteligente e provocante. Tudo o que pede é que a audiência use a cabeça. Os detalhes podem iludir pormenores, mas não obscurecem a imagem geral. Nolan não pretende dar a volta à cabeça dos espectadores uma vez que nos acompanha a cada passo do caminho para a compreensão. É definitivamente menos difícil que o seu Memento.

 

Inception é um filme sobre sonhos, manipulação, memória, o poder da imaginação e a inspiração pura.


Mas é também um filme sobre salvação e a morte como escape; amor e relações; perda e sacrifício. É também um filme sobre a maior força parasitária que existe: uma ideia. E citando Victor Hugo “Podemos resistir à invasão de exércitos, não podemos resistir à invasão de ideias".

 

"Your world is not real!" (Mal)

 

No final de contas, a única verdade que se mantém é que esta é a nobre e inventiva tentativa de um homem de implantar a sua visão na mente da audiência.

Missão cumprida.

 

10/10

 

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4 comentários

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De miguell ângelo a 04.09.2010 às 20:10

Uma das melhores críticas que já ví a um dos melhores filmes que já vi.
Faltou apenas comentar a excelente performance de Joseph Gordon-Levitt e a cinematografia do filme.
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De Catarina d´Oliveira a 07.09.2010 às 14:59

Obrigadissima Miguel! Continua a visitar e a comentar aqui o blog
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De mauro melo a 12.12.2010 às 00:36

gostei da crítica... curtia ter uma discussão em relação ás tuas interpretações do filme...
de facto, um dos filmes que mais me bateu nos últimos tempo... e de todos os pontos de vista, este filme é uma brutalidade... XD
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De Roberto Simões a 19.02.2011 às 03:05

Gostei bastante do teu texto. Não gostei assim tanto do filme, mas é um bom filme. 4*

Roberto Simões
CINEROAD (http://cineroad.blogspot.com/)

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